quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Bença!

O Bando de Teatro Olodum pra mim é mais que importante. Olho para cada um dos atores com um ar de admiração, creio que eles não tem noção do quanto importantes eles são para mim e para milhares de pessoas (ou tenham, não sei!). Lembro exatamente do dia em que vi uma peça do Bando pela primeira vez, não foi exatamente uma peça, foram trechos de uma. Primeira exibição do Programa Espelho comandado por Lazaro Ramos, no decorrer do programa eram exibidos trechos de Cabaré da Raça. Fiquei encantada com aquilo, achei mais que deslumbrante! Eles estavam falando de mim e para mim. No outro dia, fui ao Vila Velha assistir “Bakulo – Os Bem Lembrados”, peça da Cia dos Comuns (RJ) e lá vi diversos atores do Bando, aqueles que um dia antes tinham falado para mim. Eu tinha 15 anos de idade e lembro que olhava para Erico Brás admirada, a minha vontade era só abraçá-lo e agradecer, naquele momento eu não sabia exatamente por quê, mas era só isso que eu queria. Mas não o fiz, por conta da vergonha. Saindo de lá descobri que no outro dia haveria uma sessão única de “Cabaré da Raça”, fiquei louca, queria ir de qualquer jeito e fui. FOI LINDO! Só posso dizer isso, saí de lá maravilhada com tudo.

Depois desse dia sempre que vejo algum ator do Bando, eu penso: - “Ela/Ele é do Bando!” e aquele olhar de admiração volta. Eles foram muito importantes para minha formação. Formação como ser humano, como mulher negra nessa sociedade racista em que eu me encontro. Queria um dia poder dizer para eles tudo isso, mas sempre fico com aquela vergonha, igualzinha àquela de quando vi todos os atores do Bando de Teatro Olodum pela primeira vez.

E é por tudo isso que eu estou demasiadamente ansiosa para a estréia de “Bença”, peça do Bando que fala principalmente do respeito aos mais velhos. E isso está diretamente ligado a mim. Minha vó sempre me disse o quanto era/é importante os respeito aos mais velhos e sempre cobrou ‘bença’ para ela e para os outros mais velhos. Meus pais e tios seguem com os mesmos valores e eu, meus irmão e primos não somos diferentes. Catarina, mãe de Perola Nehanda e Vinicius, pai de Suiane, já ensinam a elas a importância da bença, do respeito, valores que vem sendo perdidos ao longo dos tempos. Dona Hilda deixou tudo encaminhado aqui, passou tudo certinho para todos nós e seguimos a cartilha ao pé da letra, viu Vovó?!

Agradeço a Jorge Washington, Erico Brás, Auristela Sá, Cássia Valle, Elane Nascimento, Valdinéia Soriano, Sérgio Laurentino, Telma Souza, Leno Sacramento, Fábio Santana, Arlete Sales, Ridson Reis, Robson Mauro, Geremias Mendes, Cell Vale, Jamile Alves, Ednaldo Muniz, Zebrinha, Jarbas Bittencourt, Chica Carelli e Márcio Meirelles.

(Desculpa se eu esqueci de alguém!)

Obrigado por retratar um pouquinho da minha história em cada peça encenada.

A Bença aos mais velhos!

5 comentários:

Laís Rocha disse...

Muito bonito Val!
É sempre bom ver que nós baianos também admiramos os nossos produtos. e o que seria mais nosso do que o Bando?
Faço de suas palavras, seus elogios os meus. Merecem todo o prestígio e o meu respeito e de todos.
Parabéns à Jornalista e ao Grupo.

Laís Rocha

Pedreira disse...

Também faço das suas palavras as minhas. Me encantei desde primeiro espetáculo do Bando que assisti. Também senti que era um espetáculo pra mim, e sobre mim.

Black disse...

É minha prima, gostei muito viu, é isso mesmo, o bando está de parabéns pela sua imporatância e nós que damos seguimento a esses valores passados também estamos... E a "bença", lindão... Suiane e Pérola que o digam... Vovó com toda certeza está orgulhosa de tudo isso... Parabéns pelo texto viu, você foi muito feliz com suas palavras. Um bju e que continuemos passando a todos e todas nossos valores, cada um a sua maneira conseguiremos um dia o que queremos... RESPEITO. Axé do Black
Vinicius Lima

Camilla disse...

Lindo, filhaa! Acho que na verdade o Bando consegue reproduzir em em suas montagens, as relações familiares e sentimentais de cada 'lar negro', principalmente os que seguem os princípios das religiões de matriz africana. Somos nós. Isto interfere ao ponto que nosso conceito de familia, ultrapassa aos laços sanguíneos e estão estruturados na base do respeito e reciprocidade. Por isto temos inúmeros(a) tios(as), milhares de primos(as) e etc ...

Outra coisa é você. Já é um sucesso. Vc me faz lembrar a frase de um professor Lapa, na faculdade que me dizia que 'os jornalistas já nascem assim. Se graduam para aprender as técnicas, pois o dom já carrega'

E VOCÊ É ASSIM!

Cáren disse...

Adorei!
Uh! Vou colocar na lista de favoritos do Pittaco na Moda