segunda-feira, 28 de junho de 2010

cidade provinciana

A primeira capital do Brasil completou em 2010, 461 anos de idade. Muito tempo, hein? Mas a impressão que eu tenho é que aqui ainda guarda muito da província que esta bela cidade já foi. (foi?)
Sei que isso aqui já foi muito pior, não era rota das principais peças do país, nem dos artistas mais requisitados, e de uns anos pra cá isso já vem mudando, mas o que mais me incomoda é que a mente da maioria dos soteropolitanos parou no tempo, estagnou. Posso até me colocar nesse meio, já que faço parte dessa cidade e algumas vezes o simples fato de não fazer nada pra melhorar já é muita coisa.
O que eu sinto é Salvador já deu. Não seu espaço físico, prédios e construções, mas as pessoas que a compõem. Essas queridas, que com suas mentes fechadas vão me enchendo, com seus discursos arcaicos vão me expulsando cada vez mais da minha terra natal. A impressão que tenho é que só vou ser eu de verdade quando sair dos muros soteropolitanos, ultrapassar essas barreiras.

terça-feira, 8 de junho de 2010

conto paulista

Av. Paulista, mais ou menos 18h30min, horário de pico, engarrafamento, pessoas tentando voltar para suas casas, os pontos de ônibus super lotados e ela está ali. Linda, loira, com uma saia de cintura alta que é um luxo. Ela está super distraída, quando de repente o vê. Ele, igualmente lindo, bem vestido em um terno, com uma mochila nas costas, o que certamente mostra que ele deve ser um estagiário, mais um tentando ser contratado.
Eles se beijam, muitas vezes, por sinal e com uma duração grande até. O amor entre eles parece ser incondicional. Pelo menos naquele momento é como se um só tivesse o outro naquele instante. Eles nem ligam para os olhares, que em sua maioria têm uma pitada de inveja. O amor deles exala e contagia. Eles conversam sobre tantas coisas: casa, comida, amigos, festas, futuro, futuro e mais futuro. Eles planejam tantas coisas juntos. Querem casar, ter filhos, uma casa própria, uma casa de praia, um cachorro, um gato e três passarinhos...
O ônibus dela tarda a chegar, por coincidência ou não é o mesmo que o meu, e nesse tempo eles conversam e planejam mais e mais. Até que passa um ônibus que serviria pra ela, a deixaria no meio do caminho e de lá ela pegaria outro, o que faria o percurso ser mais rápido, mas ela desiste e diz que prefere esperar o outro que faz um caminho mais longo mesmo. Porém isso nada tem a ver com o fato de que ela pagaria duas conduções, ela só quer ficar mais tempo juntinho dele, abraçadinhos como estão e conversando. Ele é sábio, a escuta e opina, o que mostra que presta atenção no que ela diz e é exatamente isso que a faz ser tão apaixonada por ele.
Mas eis que o nosso ônibus chega, eles se despedem, ela entra no ônibus, eu entro pouco depois dela, eles se despedem de novo(dessa vez de longe e sem beijos) e ela encontra uma velha conhecida dentro desta condunção, vão conversando até o destino final dela. Ela solta e segue seu caminho e eu fico a olhá-la da janela do ônibus.